A contínua evolução nas técnicas endoscópicas vem abrindo novas possibilidades para o tratamento de lesões complicadas no trato digestivo, trazendo alternativas que necessitam de intervenções menos invasivas e que garantem uma recuperação mais ágil. Dentro destas inovações promissoras, a Ressecção Endoscópica de Parede Total, mais conhecida pela sigla EFTR, desponta como uma solução eficaz que permite a remoção completa de lesões que atravessam todas as camadas da parede gastrointestinal sem recorrer à cirurgia aberta.
Entendendo a Ressecção Endoscópica de Parede Total (EFTR)
A EFTR é uma técnica endoscópica sofisticada que possibilita a retirada de lesões que se estendem por toda a espessura da parede do sistema digestivo, desde a camada mucosa até a serosa. É uma abordagem especialmente indicada para tratar lesões cuja profundidade ou posicionamento representa um desafio, tornando métodos convencionais menos eficazes, como a mucosectomia ou a dissecção da submucosa por endoscopia.
Quando é Indicada a EFTR?
Existem situações específicas onde a EFTR demonstra ser particularmente vantajosa:
– Lesões não eleváveis ou fibrosas: Estas são lesões que não se destacam com a injeção submucosa, sugerindo uma possível penetração mais profunda ou fibrose, o que torna a ressecção tradicional complicada ou inviável.
– Adenomas que retornam: São lesões reincidentes que aparecem após tentativas anteriores de remoção, especialmente em locais de difícil acesso ou com anatomia complexa.
– Neoplasias subepiteliais: Lesões que surgem das camadas mais profundas da parede do trato gastrointestinal, como neoplasias estromais gastrointestinais (GISTs).
– Lesões em áreas de difícil acesso anatômico: Como as que se localizam próximas ao apêndice, em divertículos ou em áreas que apresentam curvas pronunciadas.
Abordagens Para a EFTR
A EFTR pode ser realizada através de duas principais abordagens técnicas:
1. Remoção seguida de fechamento: Nesta abordagem, primeiramente a lesão é removida em toda a espessura da parede, o que resulta em uma abertura temporária para a cavidade peritoneal. Posteriormente, essa abertura é fechada endoscopicamente, utilizando suturas ou clipes.
2. Fechamento seguido de remoção: Essa técnica inicia com a junção das camadas mais profundas da parede gastrointestinal empregando dispositivos apropriados, como o Full-Thickness Resection Device (FTRD®). A remoção ocorre após o fechamento, reduzindo assim a exposição da cavidade peritoneal e minimizando o risco de contaminação.
Eficiência e Segurança da EFTR
Pesquisas indicam que a EFTR atinge elevados índices de sucesso técnico e remoção completa (R0), aliado a baixos índices de complicações. Por exemplo, uma experiência multicêntrica realizada em Portugal reportou uma taxa de êxito técnico de 88,4% em 129 procedimentos colorretais através da EFTR, com uma taxa de ressecção completa de 81% e eventos adversos em cerca de 12%, que na maioria das vezes puderam ser geridos endoscopicamente.
Benefícios da EFTR
– Menos invasiva: Evita a necessidade de cirurgias abertas, encurtando o tempo de internação e recuperação.
– Preservação da anatomia: Mantém a estrutura do sistema digestivo, conservando a função natural dos órgãos.
– Redução do risco de complicações: Em comparação às cirurgias tradicionais, a EFTR apresenta menor probabilidade de infecções, sangramentos e outras complicações pós-operatórias.
Considerações Finais
A Ressecção Endoscópica de Parede Total representa um significativo avanço no tratamento de lesões complexas do trato digestivo, configurando-se como uma alternativa segura e eficaz frente às abordagens cirúrgicas convencionais. É crucial que este procedimento seja realizado por profissionais experientes em instituições especializadas, a fim de assegurar uma seleção criteriosa dos pacientes e a execução precisa da técnica.

