A pancreatite crônica é uma condição caracterizada por inflamação contínua do pâncreas, levando a danos irreversíveis ao tecido desse órgão vital. Com o tempo, isso resulta na perda gradual das funções digestivas e hormonais. Os doentes muitas vezes enfrentam sintomas como forte dor abdominal, má absorção de nutrientes e diabetes. O tratamento inicial é geralmente através de abordagem clínica, com foco em aliviar a dor, suplementar enzimas e gerenciar complicações metabólicas. No entanto, há momentos em que a cirurgia se torna a melhor opção para aliviar sintomas e prevenir problemas mais graves.
Critérios para Optar pela Cirurgia
A decisão de seguir com uma intervenção cirúrgica em pacientes com pancreatite crônica é guiada por situações específicas, como:
– Dor Abdominal Severamente Incapacitante: Quando a dor persiste, mesmo após tratamentos clínicos e endoscópicos, afetando de forma significativa a qualidade de vida do indivíduo.
– Problemas Locais Complicados: Inclui a presença de pseudocistos que causam desconforto, estreitamentos no ducto principal do pâncreas, obstruções no sistema biliar ou duodenal, ou fístulas internas que não respondem a outros tratamentos.
– Possibilidade de Tumor: Quando é difícil distinguir entre pancreatite crônica e neoplasia do pâncreas, especialmente na presença de massas.
– Hipertensão Portal Isolada: Causada pela compressão de vasos devido à fibrose no pâncreas, levando a varizes no estômago ou esôfago.
Procedimentos Cirúrgicos Frequentemente Realizados
Existem diversas técnicas cirúrgicas disponíveis para tratar a pancreatite crônica, a serem escolhidas conforme o quadro clínico e anatômico de cada paciente:
– Anastomose Laterolateral entre Pâncreas e Jejuno (Procedimento de Puestow): Recomendado para pacientes com dilatação no ducto pancreático principal, este procedimento cria uma conexão que facilita a drenagem correta das secreções e proporciona alívio da dor.
– Ressecção Duodenal com Preservação (Procedimento de Beger): Envolve a remoção parcial da cabeça do pâncreas, mas preserva o duodeno e o ducto biliar, indicada quando a inflamação e fibrose são mais intensas na cabeça do órgão.
– Ressecção Duodenal e Preservação Parcial (Procedimento de Frey): Semelhante ao método de Beger, mas requer menor ressecção de tecido, combinando uma ressecção parcial da cabeça do órgão com a anastomose para drenagem.
– Remoção da Parte Distal do Pâncreas: Indicado quando a condição compromete mais o corpo e a cauda do pâncreas.
– Remoção Cefálica do Duodeno (Procedimento de Whipple): Este envolve a retirada não apenas da cabeça do pâncreas, mas também do duodeno, vesícula biliar e parte do estômago. Geralmente está reservado para suspeitas de tumor ou quando outras técnicas não são apropriadas.
Resultados e Cuidados Após Cirurgia
Selecionar o procedimento cirúrgico correto é crítico para alcançar sucesso no tratamento. Documentos indicam que procedimentos que combinam a ressecção com uma drenagem ampliada tendem a aliviar melhor a dor do que métodos que apenas drenam. É igualmente vital manter a funcionalidade do tecido pancreático remanescente e prevenir complicações após a cirurgia.
É essencial lembrar que a cirurgia não consegue reverter a função pancreática já perdida. Assim, após o procedimento, um suporte nutricional apropriado, controle rigoroso dos níveis de açúcar no sangue e, se necessário, a reposição de enzimas pancreáticas devem ser continuados.
Conclusão
Decidir-se pela cirurgia no tratamento da pancreatite crônica deve ser um processo individualizado, levando em consideração a severidade dos sintomas, a presença de complicações e a resposta à terapia clínica. Quando bem indicada e executada por uma equipe qualificada, a intervenção cirúrgica pode proporcionar um alívio expressivo da dor e uma melhoria na qualidade de vida dos pacientes. A colaboração contínua entre diferentes especialidades médicas é crucial para monitorar a progressão da doença e ajustar o tratamento conforme as necessidades.

